Autoridades angolanas dizem ter desmantelado um grupo terrorista que planeava atacar o Governo, mas críticos e a UNITA acusam o Executivo de encenação para desviar atenções de escândalos e crises internas.
Em Angola, o anúncio do desmantelamento de um grupo que alegadamente pretendia atacar a Presidência da República, a refinaria de luanda e a embaixada norte-americana durante a visita do Presidente Norte-Americano Joe Biden, está a ser considerado um “teatro” pelos críticos do Governo.
Foi o tema mais discutido em Angola durante o fim de semana. Segundo o porta-voz do Serviço de Investigação Criminal (SIC), Manuel Halaiwa, um grupo autointitulado Frente Unida de Reedificação da Ordem Africana (FUROA) pretendia derrubar o Governo angolano e instaurar um novo regime no país.
“Golpe Frustrado”
Armado de explosivos, o grupo, alegadamente com ramificações no exterior, pretendia atacar a Assembleia Nacional, o Palácio Presidencial e reservatórios de combustíveis da petrolífera estatal Sonangol. Mas a operação fracassou, disse Halaiwa no fim de semana:
“Esses indivíduos escolheram efetivamente a dedo as rotas e também a forma de recuar caso fossem detetados pelos órgãos de defesa e segurança. Não tiveram grande sucesso a nível da Assembleia Nacional, a nível do Palácio Presidencial, porque verificaram que a área é bastante segura.”
Entre os detidos, acusados de envolvimento no caso, estão também um agente da Polícia Nacional e um funcionário do Ministério da Justiça.
Horas depois do anúncio, começaram a circular rumores, em Luanda, de que um alto responsável da UNITA estaria envolvido no caso. Nada disso foi confirmado pelas autoridades.
Acusações rejeitadas
Em declarações à DW, Evaldo Evangelista, o secretário para comunicação e marketing do maior partido da oposição, garante que a UNITA e os seus dirigentes não têm qualquer relação com o caso. Diz ainda que a história avançada pelo SIC está bastante mal contada:
“Este é um assunto tão sério. Os órgãos competentes precisam vir a público dar mais detalhes e não ficarem apenas nessa informação superficial. É preciso explicar claramente o que está por trás disso, o que aconteceu, dar uma informação mais bem organizada.”
As autoridades teriam desativado o suposto atentado com o auxílio dos Estados Unidos da América, segundo adiantou o Serviço de Investigação Criminal.
Contactada pela DW, a embaixada norte-americana em Angola não comentou o assunto, remetendo o caso às “autoridades angolanas competentes para esclarecimentos oficiais sobre o tema em questão”.
“Distração Política”
Para o jornalista e analista político José Gama, esta é uma estratégia para resgatar a popularidade do chefe de Estado. Cenário idêntico registou-se em 2015 com o caso 15+2, afirma Gama.
“É provável também que a agenda seja esta. João Lourenço também não goza de boa popularidade e aceitação, e trazendo-o aqui como alguém que está ser vítima de grupos, pode causar alguma simpatia para com ele. Mas foi um ato que não revela profissionalismo.”
Por sua vez, o ativista e militar na reserva, Osvaldo Caholo, condenado por tentativa de golpe de Estado no processo 15 mais 2, em 2016, afirma que a notícia avançada no fim de semana foi “fabricada” por um “órgão banalizado”.
“É mais um teatro, que na verdade visa saquear somas de dinheiro para o reforço da segurança, e para colocar medo e distrair as atenções. É muito entretenimento. Vem o contrabando de combustível, vem a AGT, vem 60 toneladas de explosivos. Daqui a pouco vão criar outro entretenimento.”
O caso da suposta meg tem também ocupado preenchido manchetes em Angola.
O secretário para comunicação e marketing da UNITA suspeita que o Governo estará a inventar “contos sobre terrorismo” para o público ter outros temas para falar.
“Não é só o caso da AGT. Estamos numa vertente de procurar desviar atenções no facto de que ainda hoje, temos a questão da cólera no país e as autoridades não estão a ter capacidade, nem sequer de providenciar água potável ou água corrente às comunidades.”
